Para Aninha Franco, não há ações suficientes que classifiquem a atual ministra como uma gestora capacitada para gerir o ministério

Diretora teatral, atriz, e escritora, Aninha Franco comentou as recentes iniciativas do setor cultural do país e fez duras críticas à gestão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista à Rádio Metrópole nesta quinta-feira (12), durante o Jornal da Bahia no Ar com José Eduardo, ela disse não saber o motivo da escolha por Margareth Menezes para chefiar o ministério.

“Eu não sei como Margareth foi escolhida para ser a ministra da Cultura. Eu realmente não sei”, disse Aninha.
“Margareth é uma intérprete poderosa e coisa e tal. Mas ela não tem a menor condição de comandar um Ministério da Cultura porque ela não foi preparada para isso. É básico, é simples. Assim como Silvio não podia estar no ministério que esteve. É simples e básico. Sem entender isso, o Brasil está cada dia pior”, declarou a diretora.
Segundo a ativista cultural, a ministra não reúne condições de gerir a pasta, mesmo com relevantes serviços prestados à música brasileira. “Ela não poderia dar, ela não foi preparada para isso. O Ministério da Cultura precisa de um pensamento como um todo. Ela não tem isso. É básico, é simples. Ela é uma intérprete maravilhosa. Eu não posso proteger o Ministério da Cultura de Margareth porque ela é baiana. Não posso fazer isso com a Bahia. Eu amo a Bahia e amo o Brasil. E amar significa ser racional”, afirmou.
Questionada sobre qual seria o melhor nome para assumir o Ministério da Cultura, Aninha Franco se esquivou e comentou os rumos do setor no país. “Tem dezenas de pessoas, não vou enumerar. Tem que ser um técnico em cultura que entenda de todas as áreas, que se envolva com todas as áreas. Vou te dar um exemplo de como as coisas da Cultura estão. Está acontecendo uma Bienal do Livro em São Paulo. O presidente da República, Lula, foi à Bienal e discursou. E o que ele disse? ‘Eu não gosto de ler’. Entendeu?”, ironizou.
Secretário rebate e Aninha comenta
Durante o programa, o secretário estadual de Comunicação, André Curvello, se manifestou e saiu em defesa da escolha por Margareth Menezes. De acordo com o chefe da pasta, a ministra tem apoio do governo federal e diálogo firmado com as áreas sociais. “Margareth é um grande nome da música e da cultura baiana. É uma mulher negra e que tem sim suas prerrogativas. O ministério da Cultura não pode servir apenas às elites”, iniciou o secretário.
“Não é pelo fato dela ser uma mulher, uma negra e da Bahia que ela não reúna as condições de ser uma ministra da Cultura. Ela tem dialogado com os mais diversos segmentos, tem feitos excelentes trabalhos sob a liderança do presidente Lula e todo o apoio do ministro Rui Costa e do governador Jerônimo Rodrigues. Eu tenho certeza de que ela está iniciando um verdadeiro processo de revolução da cultura, em prol da cultura popular, brasileira e dos jovens. Muita coisa precisa ser feita ainda, não é o melhor dos mundos. Mas tem sido feito um trabalho espetacular de inclusão”, acrescentou Curvello.
Aninha então respondeu o secretário e citou o Teatro XVIII, antigo espaço localizado no Centro Histórico de Salvador. O local, que funcionava no Quarteirão Cultural do Pelourinho, abrigou saraus, palestras e aulas. Se dirigindo a Curvello, Aninha comentou que a unidade era uma das mais importantes da Bahia para fomentar a cultura.
“É o seu trabalho. Agora, se a gente for falar realmente de democratização, eu vou te lembrar da existência do Teatro XVIII. Entre 1997 e 2007, vou além. Vou lembrar que a madrinha do Teatro XVIII era Maria Bethânia. Antes de cada espetáculo, ela tinha gravado o seguinte poeminha: ‘Eu conheço um lugar onde pretos e brancos, ricos e pobres, eruditos e populares dividem o mesmo espaço. Todos porque podem e todos porque desejam’. Se você quiser discutir comigo sobre elitização de cultura, você tem que lembrar do Teatro XVIII”, finalizou.
Questionada por José Eduardo sobre o atual panorama da Bahia e de Salvador, Aninha disse que não teve contato com os atuais gestores das secretarias, Bruno Monteiro (Secretaria de Cultura da Bahia) e Pedro Tourinho (Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador). No entanto, ela comentou uma fala do gestor municipal e a ausência de ações na capital baiana.
“Não conheço nenhum dos dois. Fui a um evento da prefeitura, ‘pensar a cidade’. O secretário municipal fez um discurso interessante. Mas eu ainda não percebi a conexão entre a ação e o discurso”, pontuou. (BNews)