Embora homônimo de gordura excessiva, sujeira, sebo significa uma loja, um local que comercia livros e revistas usados
Uma cidade sem sebo é uma cidade limpa. Esse é o perfil de Feira de Santana, a princesa do sertão. Todavia, a falta de sebo é sentida pelos aficionados da leitura que procuram nos sebos bons livros, até mesmo raros, por preços convidativos, metade ou até menos disso em relação a um novo.
Feira de Santana, a segunda maior cidade da Bahia e uma das mais importantes do Brasil, com uma população fixa estimada em cerca de 700 mil habitantes, ao contrário de outras grandes urbes do país, é uma cidade sem sebo! Ótimo, isso é maravilhoso, então estamos em uma metrópole cosmopolita limpa, sem sujeiras. Nesse aspecto, sim, a Terra de Santana pode se orgulhar de ter ruas limpas e bem varridas, mas não é disso que se trata e, sim, de algo totalmente diferente que aqui não tem: um SEBO! Embora homônimo de gordura excessiva, sujeira, sebo significa uma loja, um local que comercia livros e revistas usados, ou de “segunda mão”, como é dito. E isso a cidade não dispõe!
Na verdade, chamar esse comércio de sebo é um tanto discriminatório, porque em lojas ou casas desse tipo, em grandes cidades, é possível encontrar livros que mal foram foleados e outros que nem foram abertos, talvez presentes não desejados. Naturalmente, há exemplares que se apresentam estragados e rascunhados, mas cabe ao interessado saber escolher. Romances, livros didáticos, dicionários, livros técnicos, de humor, revistas antigas, tudo o que para o leitor apaixonado representa muito, é possível encontrar em um bom sebo. Na Bahia, onde o índice de leitura não é dos melhores, com o advento da internet e do celular, percebe-se um vazio crescente nos locais de venda de jornais, ao contrário do que se via há 10 ou 15 anos.
Até mesmo revistas famosas desapareceram, e algumas ainda editadas e colocadas em bancas, às vezes são retiradas no dia previsto sem obter vendagem. Em Salvador, que contava com pelo menos três grandes sebos, o problema já chegou há algum tempo, com o arrefecimento da antiga visitação nesses locais. Todavia, mesmo com o “encolhimento” do número de leitores, há quem procure algo para ler que nem sempre é encontrado em uma livraria, havendo outro aspecto interessante para quem olha por esse ângulo: o preço. Naturalmente, em um sebo, o preço cai vertiginosamente para a metade do valor original ou até menos. E ainda há outro aspecto: a satisfação que sente o leitor em promover uma verdadeira “prospecção” para encontrar algo desejado ou até inesperado.
Nascido em Lagedinho, mas desde garoto em Feira de Santana, Valter Alves dos Santos começou a trabalhar com o tio, Avelino Santos, que tinha uma banca de revistas na Av. Getúlio Vargas, ao lado da Igreja Senhor dos Passos, desde 1960, e vendia livros técnicos, didáticos, romances e revistas. Mas só a partir de 1990, Valter deu prioridade aos livros usados e até hoje permanece nessa linha. A banca Senhor dos Passos fica na esquina da Rua Conselheiro Franco com a extensão da Avenida Getúlio Vargas (próximo ao comércio de flores) e registra bom movimento.
Romances, autoajuda, policiais da escritora Agatha Christie, livros de Direito e obras de autores como Eleanor Porter e Khaled Hosseini, revistas em quadrinhos, palavras cruzadas e caça-palavras são bem procurados. A Cidade do Sol, O Caçador de Pipas, O Poderoso dos Seis Sigmas são alguns dos títulos mais requisitados. Um detalhe é que, além do preço reduzido, às vezes à metade do valor original, o cliente pode apresentar dois livros e trocá-los por um que ainda não leu. Esse sistema é atraente, garante o comerciário Paulo Sérgio. “Já experimentei e gostei, mas prefiro comprar quando encontro algo que me interessa”, diz.
O mesmo panorama é visto na banca de revistas de Ciso – Manuel Narciso Marinho Natividade, localizada ao lado da agência do Itaú, Rua Conselheiro Franco, confluência com a Rua Deputado Melo Lima. Há 48 anos ele trabalha com livros e revistas usados e não pretende mudar. Livros de autoajuda, romances policiais de Agatha Christie, continuam na frente, bíblias, livros de bolso com histórias do velho oeste, edições esportivas, caça-palavras e palavras cruzadas também são bem vendidos. Assim como Ciso, Valter acredita e pretende continuar no segmento, mas para melhorar o faturamento está colocando artesanato para vender e costurando bolas de couro “quando aparecem”.
(Por: Zadir Marques Porto – SECOM/PMFS)