A volta do Galinho de Quintino a Feira de Santana

Esta semana, o craque Zico estará em Feira de Santana para uma série de atividades, reacendendo a memória de sua ligação com a cidade. Para os torcedores mais antigos, a visita traz lembranças de três jogos em que o maior ídolo do Flamengo pisou no gramado do Estádio Jóia da Princesa: 1974, 1977 e 1979. Foram partidas que misturaram goleadas, defesas improváveis e muita emoção, transformando o estádio em palco de capítulos inesquecíveis da história do futebol brasileiro.

A noite inesquecível do Brasileirão 77
Em 26 de outubro de 1977, Feira de Santana parou para ver um jogo histórico. Pelo Campeonato Brasileiro, o Flamengo enfrentou o Fluminense de Feira e aplicou uma das maiores goleadas já registradas no Jóia da Princesa: 6 a 0. Mais de 20 mil torcedores, público recorde, acompanharam de perto uma atuação impecável do time carioca, liderado por Zico, que marcou dois gols e participou de outro.
Logo aos seis minutos, Luís Paulo avançou pela esquerda e tocou para Tita abrir o placar. O Fluminense ainda reagiu, chegando a ameaçar o gol de Cantareli em duas boas finalizações do atacante Beijoca. No segundo tempo, o Flamengo acelerou e o show começou. Aos 24 minutos, Zico recebeu passe de Toninho, driblou o goleiro Marcelino e fez o segundo. No minuto seguinte, o Galinho voltou a aparecer para empurrar para as redes e ampliar para 3 a 0.
O massacre continuou. Aos 35, Zico dominou no peito e serviu Osni (ex-Vitória e Bahia) que marcou o quarto. Pouco depois, Toninho fez o quinto, e ainda houve tempo para ele marcar mais um, aos 44. A goleada por 6 a 0 consolidou uma das maiores noites da história do estádio e eternizou o nome de Zico na memória da torcida feirense.
Ficha técnica
Fluminense: Marcelino, Ubaldo, Geraldo, Válter e Tião; Fred, Eliberto (Edinho) e Chiquinho (Hélio Índio); Tirson, Beijoca e Nivaldo.
Flamengo: Cantareli, Toninho, Rondinelli, Dequinha e Júnior; Merica, Adílio e Luís Paulo; Osni, Tita e Zico.
Gols: Tita (6’ do 1ºT); Zico (24’ e 25’ do 2ºT); Osni (35’ do 2ºT); Toninho (35’ e 44’ do 2ºT).
Árbitro: Dulcídio Wanderley Boschilia (SP), auxiliado por William Batista e Aquiles Veras.
Público: 20.207 pagantes.
Renda: Cr$ 422.369,00.

O pênalti defendido em 1979
Menos de dois anos depois, em 2 de fevereiro de 1979, Zico voltou ao Jóia da Princesa, desta vez para um amistoso contra o Fluminense de Feira. O Flamengo venceu por 2 a 0, mas o lance mais lembrado da noite não foi um gol, e sim uma defesa. Aos 33 minutos do primeiro tempo, o craque sofreu pênalti e foi para a cobrança. O estádio silenciou. Zico bateu, mas o goleiro Alemão voou no canto certo e defendeu, arrancando aplausos até de torcedores rubro-negros.
No segundo tempo, o Flamengo voltou mais organizado e resolveu o jogo rapidamente. Aos 23 minutos, Adílio aproveitou falha da zaga e abriu o placar com chute no ângulo. Três minutos depois, Júlio César arriscou da esquerda, a bola desviou em Sabino e enganou Alemão: 2 a 0. Foi a confirmação da superioridade do Flamengo, mas o nome que ficou na memória do torcedor foi o do goleiro tricolor, que teve a coragem de parar o Galinho em sua especialidade.

Ficha técnica
Fluminense: Alemão, Galego, Amadeu, Aldaci e João Augusto; Reginaldo, Edinho e Sabino; Tonho, Fernando (Mirandinha) e Tatá.
Flamengo: Cantareli, Toninho, Rondinelli, Nelson e Júnior (Ramirez); Andrade, Adílio (Cléber) e Zico; Tita, Luisinho e Júlio César.
Gols: Adílio (23’ do 2ºT) e Júlio César (26’ do 2ºT, gol contra de Sabino).
Árbitro: Nei Andrade, auxiliado por Anivaldo Magalhães e Raimundo Nafite.
Cartão amarelo: Galego (Fluminense).
O amistoso de 1974
Zico pisou no gramado do Jóia da Princesa em 1º de abril de 1974, em um amistoso realizado durante uma pausa na tabela do Campeonato Brasileiro daquele ano. O Flamengo aproveitava a passagem pelo Nordeste para realizar partidas de preparação, e venceu o Fluminense de Feira por 2 a 0. Zico começou a partida como titular, mas foi substituído por Rui Rei no decorrer do jogo.
Os gols foram marcados por Geraldo, em cobrança de falta, e Paulinho, dois minutos depois, garantindo a vitória rubro-negra.
Ficha técnica
Fluminense: Luís Antônio, Luís Carlos (Luís Eduardo), Onça, Bira e João Augusto; Merrinho e Neinha; Pinheirinho (Cabinho), Paulo, Lelé (Manuel Porto) e Biriba.
Flamengo: Renato (Cantareli), Aluísio, Jaime, Luís Carlos e Rodrigues Neto (Nei); Liminha (Paulo Roberto), Zé Mário e Geraldo (Aluísio); Paulinho, Zico (Rui Rei) e Arílson (Vicentinho).
Gols: Geraldo (13’ do 2ºT) e Paulinho (15’ do 2ºT).
Árbitro: Manoel Serapião, auxiliado por Gilberto Alves e Manoel Rodrigues.
Memória viva
De 1974 a 1979, Zico esteve três vezes em Feira de Santana, deixando sua marca em diferentes momentos da carreira. Do jovem que começava a brilhar, ao craque consagrado que arrastava multidões, sua presença no Jóia da Princesa atravessou gerações. Agora, décadas depois, o retorno do Galinho reacende a memória de quem esteve na arquibancada e mostra às novas gerações que Feira também faz parte da história deste jogador.
Imaginário
Há quem afirme que Zico, ainda juvenil, esteve no banco do Flamengo em dois amistosos realizados no Joia da Princesa contra o Fluminense de Feira, no final dos anos 1960. Mas, além de depoimentos, não foram encontrados registros em jornais de época sobre isso. A dúvida, no entanto, alimenta o imaginário popular.
Por: Everaldo Goes / @feirahoje