É bem verdade que para atingir o degrau mais alto do sucesso temos de começar de baixo, subindo aos poucos. Cícero Menezes, o feirense que revolucionou a música baiana, começou já no topo, saindo de bandas marciais diretamente para os trios no Carnaval de Salvador. Em entrevista ao repórter Luiz Santos da Rádio Sociedade News FM, Cícero Menezes conta sobre seus projetos e a trajetória vitoriosa na música, revelando para o mundo bandas como Timbalada, As Meninas e tantos outros.

“O nosso carnaval depois de dois anos de pandemia será o Carnaval da retomada, atípico, todo mundo ávido por festas, som ao vivo, tendo em vista que no período de pandemia não podíamos, mas agora estamos voltando com toda força e faremos um Carnaval bacana em Salvador, estou com um projeto novo chamado Me Siga, com o slogan: Me Siga no Pelourinho, Me Siga na Liberdade, Me Siga no Alto do Andu, Me Siga em nossos ensaios.

Agenda Carnaval 2023
“Já recebi algumas colocações, às vezes tem remanejamento por conta de horário, Pelourinho, Lauro de Freitas, Madre de Deus é o que estão mandando para mim, há uma possibilidade muito grande de estarmos presentes nesses locais, Liberdade, Lapinha, estou aguardando apenas a montagem da grade, afinal, só do Governo do Estado são 160 atrações, do município várias outras já cadastradas, depois de dois anos de pandemia todo mundo quer tocar, mostrar seu trabalho, a Bahia é rica nesse aspecto, Axé, Carnaval, a maior festa aberta do planeta, é uma concorrência grande, mas tem espaço para todos. No Carnaval são mais de 60 municípios, mas Salvador é a grande vitrine para todo o mundo, com transmissão de TV e rádio, todo artista quer tocar em Salvador, passar pelo circuito, mostrar seu trabalho nesse período para continuar trabalhando o resto do ano”.
Cícero Menezes conta sua trajetória vitoriosa, com muitos prêmios, viagens internacionais e sua relação com Carlinhos Brown.
“Sou feirense de coração e tenho uma história interessante a respeito do meu ingresso na música. Comecei tocando em bandas marciais em Feira de Santana, no Nossa Sra. do Rosário, Santo Antônio e toquei no Gastão Guimarães. Quando vim morar em Salvador em 1980, fui convidado por um amigo que sabia que eu tocava caixa em banda marcial, para tocar no trio elétrico, tinha muito Frevo e esse instrumento era muito utilizado no trio. Dei sorte já de início ao começar em uma banda conhecida, Os Novos Bárbaros, no ano seguinte com Lui Muritiba, somos contemporâneos, eu, Carlinhos Brown, Valtinho do Chiclete, Bajara do Asa de Águia, o falecido Bastola do Cheiro de Amor e Tony Mola do Bragadá. Logo depois disso, Cesinha, baterista do Acordes Verdes foi tocar com Caetano Veloso, e Caetano como sempre, muda de banda dependendo do show que ele coloque, precisava de um percussionista e Cesinha indicou Brown, que foi tocar com Caetano. Daí então, ele me chama e diz que precisava de uma pessoa para cuidar da carreira dele, porque como percussionista não tinha muito traquejo, essa coisa de negociar e tudo mais, minha mãe professora de Língua Portuguesa, tinha o dom da escrita, ele precisava de alguém que além desse dom, souber fazer negociação, boa comunicação e entendesse o que ele queria fazer como percussionista. Brown é um gênio, tinha algumas ideias que os produtores ou empresários achavam loucas, botar 150 homens na Lavagem do Bonfim, como assim? E eu entendi o porquê de 150, era para mostrar que fazíamos com 20 ou 30 e quadruplicável, para atingir aquela massa popular e assim nasceu a Timbalada. Fomos sócios por algum tempo, fizemos o primeiro disco pela Polygram, emplacamos cinco a seis músicas já no primeiro disco, na época uma coisa inédita. Gravávamos entre 14 a 15 músicas e a gravadora escolhia uma música, a música de trabalho. Começamos com a música “Canto pro Mar” como se fosse uma música de trabalho, mas nesse mesmo disco estourou, “Toque de Timbaleiro”, “Beija-Flor” e tantas outras e ganhamos disco de ouro. Precisávamos sair na Barra, porque fazíamos tudo no Candeal e estava muito restrito, não para a Timbalada, mas para o público que queria ver A Timbalada, nisso, percebemos a necessidade de ir para Barra para que as pessoas vissem aquele trabalho que começou como algo social, mas muito percussivo, muito genial. No primeiro ano na Barra, concorremos com o Asa de Águia, Daniela Mercury, Ricardo Chaves, Bel, Netinho, Ivete na Banda Eva, todo mundo precisava passar pelo Farol e pelo circuito Barra/Ondina mostrando seu trabalho. Chegamos com os corpos pintados, sem camisa, tocando no Carnaval da Barra e para a nossa surpresa, fomos campeões já no primeiro ano. No segundo ano, lançamos o segundo disco, com a música “Um Namoro a Dois”, estouramos com “Mimar Você” e outras canções e fomos bicampeões do carnaval da Barra. O terceiro ano foi o mais sensacional de todos, porque gravamos algumas canções que estouraram. A música “Margarida Perfumada” é uma música minha e de Brown, não queríamos que ela fosse a música de trabalho, colocamos a música “Se você se For” na voz de Deni, as outras duas já na voz de Xexéu, e naquele ano a gravadora resolveu alavancar a carreira do Deni, mas não teve jeito, quando o povo quer ninguém segura, ganhamos pelo terceiro ano, cantor revelação Xexéu, cantora revelação Patrícia, tricampeão do Carnaval com o bloco Timbalada e a música do Carnaval “Margarida Perfumada”. A entrega do prêmio foi no Teatro Castro Alves, o pessoal brincava e me dizia: rapaz, você vai cansar de ficar subindo toda hora”, brincou.

Cícero afirmou que foi convidado pela empresária de Carlinhos Brown para participar da comemoração dos 30 anos da Timbalada, mas que o convite público é direcionado apenas aos cantores.
“A Timbalada com Deni e Buja farão o trabalho no carnaval e Brown está chamando Xexéu, Ninha e Patrícia para comemorar os 30 anos de Timbalada, estando presentes em um dia de Carnaval. Parece, não posso lhe afirmar com 100% de certeza, que eles farão uma turnê pelo Brasil nesse formato, com Brown, Xexéu, Patrícia e Ninha. Na apresentação ocorrida no Candeal, no Gueto Square, a Ivana Souto, empresária de Brown atualmente, me chamou, dizendo: Estamos no ensaio, todo mundo lembrando daquela época maravilhosa, falta apenas você, venha! Gostamos muito dos músicos que tocaram conosco e que progrediram bastante, sou padrinho de muitos músicos que passaram pela Timbalada, e no mesmo dia, coincidentemente tinha a Ana Carolina na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. Atualmente na banda de Ana Carolina toca Cesinha, antigo baterista do Acordes Verdes, Leonardo Reis, percussionista daqui da Bahia e Théo, guitarrista, todos passaram por nós e estão tocando com Ana Carolina. Eles estavam em Salvador, mandaram o convite para mim, não deixe de ver seus afilhados como estão, já tinha prometido a eles. Não pude ir no dia, mas agradeci, todos mandaram mensagens para mim, somos amigos até hoje, Xexéu é muito agradecido, Patrícia, Ninha, todos eles, porque era outra época, todos eles estavam conversando e eu tive o prazer de conseguir participar da evolução desses artistas, me lembro de Patrícia quando chegou novinha 18 anos, crua, mas com um potencial, sorriso lindo, hoje em dia Patrícia está muito mais madura no palco. Quando lancei o Me Siga no pelourinho no dia 8 de janeiro do ano passado, ela foi minha convidada, fazendo a participação com banda completa, Ninha também já participou conosco, Xexéu está morando em Aracaju, mas sempre me liga, porque a música “Margarida Perfumada” é na voz dele e precisa de alguma coisa, como na vez em que ele estava gravando o seu DVD e ele me pediu uma autorização direta para não pagar Royalties sobre a música, somos amigos até hoje”, disse.
Cícero finalizou afirmando que tinha divergências administrativas com Brown, mas que tudo ja foi resolvido, faz parte do passado e todos são bons amigos.
“Desentendimentos são coisas do passado, tínhamos divergências administrativas, como em toda empresa. Brown é um gênio, tenho todo o agradecimento do mundo a ele, pois foi ele que me botou nesse mercado da música, o que sou hoje agradeço a ele, porque eu era músico apenas, se não tivesse esse convite, se não tivéssemos feito a Timbalada não teria conhecido o mundo, como conheci Japão, Estados Unidos, Europa, América do Sul, tudo isso através da Timbalada, o meu crescimento profissional, tudo que aprendi. A partir daí fiz As Meninas, Araketu com Larissa Luz, a substituição de Claudinha no Babado Novo, Chinelada, Me Siga. Para mim foi ótimo, porque deixei de ser Cícero da Timbalada e passei a ser Cícero Menezes, o produtor de sucesso. Administrativamente discordávamos de algumas coisas, hoje eu entendo, mas na época eu era imaturo, as ideias que Brown tinha eram megalomaníacas para a época, eu era o cara que puxava o freio, porque se deixasse ele voava já naquela época e eu sabia das condições financeiras da empresa, até onde podíamos chegar. Em um momento percebi que ele já podia caminhar sozinho, estava pronto, hoje percebo que essa foi a minha missão, de pegar aqueles 150 timbaleiros, o Brown que não tinha o discernimento que tem hoje, não cantava à época, e contribuir de alguma forma para que ele se tornasse o artista que virou, claro que com a genialidade dele de composição, para mim, o artista mais vanguardista desse período da música baiana, o mais contemporâneo e inovador”, concluiu.

(Reportagem: Luiz Santos e Edvaldo Peixoto)
1 comentário
Parabéns ao amigo de infância, cabra bom, zóio de cabra, gente dá melhor qualidade, muita Luz axé.