Impossível falar de Carnaval sem mencionar o ritmo gostoso da Timbalada de Carlinhos Brown. Em mais uma reportagem especial da série Carnaval 2023, o Eterno Timbaleiro, cantor e compositor, Augusto Conceição em entrevista concedida a Luiz Santos, repórter da Rádio Sociedade News FM 102.1 Augusto afirma que o ritmo das músicas da Timbalada foram inspiradas no Samba Junino, ritmo pelo qual se apaixonou na adolescência quando ainda tocava com o pai na Orquestra Sinfônica.
“Comemoramos 30 anos de Timbalada, em um show no dia 15 de Janeiro no Candyall Gueto Square, com Xexéu, Patrícia, Alexandre Guedes, Amanda, foi muito bom encontrar com todos. Mas eu sigo realizando alguns trabalhos, nesses anos todos de afastamento da Timbalada, compondo algumas canções cantadas por Ivete, Margareth Menezes, Cláudia Leite, para todo o mercado da Bahia e do Brasil, demos alguma contribuição. Na verdade, trabalhamos na indústria musical, porque atuamos na criação e na execução. Tenho 56 anos, destes, 40 dedicados a música, comecei aos 16 anos, mas com 07 anos já tocava piano. Algumas composições minhas que fizeram sucesso na voz de outros interpretes foram: “Perêrê”, “Juliana”, “Rodopiou Parou”, “A Galera”.
Sobre o processo de criação musical Augusto diz que compõe as letras e se diz totalmente livre nas idéias:
Augusto Conceição: “A Ivete faz uma brincadeira quando vou mostrar as músicas, dizendo: “Cara, grave desse jeito aí viu? Aquela brincadeirinha que você faz, pode brincar”. E ela grava exatamente igual, como foi o caso da música “Brasileiro”, gravada naquele DVD no Madson Square Garden nos Estados Unidos.
Augusto contou um pouco sobre a sua história na música, como tudo começou.
“Tenho várias vertentes musicais, cresci tocando na orquestra do meu pai, o maestro Vivaldo Conceição, ele era amigo de Riachão, Batatinha, Caetano Veloso, Gilberto Gil, eu vi a Orquestra Sinfônica com violinos e violoncelos, com 14 anos comecei a ensinar música com meu pai, porque ele teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e tinha de cumprir um período de descanso e poder se aposentar como estatutário. Nisso eu já sabia partitura, ensinava Tuba, Trombone, Sax Alto, Tenor, me colocando em seguida para tocar na orquestra, como terceiro trombone com 14 anos de idade. Nessa mesma idade, conheci o Samba Junino e me apaixonei. Descia pelos becos atrás de samba. Tinha 13 anos, pedia para tocar surdo, tamborim. Doze anos depois me tornei diretor do Samba Junino, no Samba Fama na Federação, que gravou um disco e estourou em Salvador e até hoje várias músicas de Samba Junino tocam, o ritmo foi tombado em 2018 como patrimônio imaterial do município”, disse.
Timbalada
“Com 17 anos, comecei a tocar com Jerônimo, conheci Carlinhos Brown tocando, dando umas canjas, toquei com Lazzo Matumbi, gravei discos em Salvador com vários artistas. No projeto “Vai Quem Vem”, me chamaram, fizeram algumas audições. Brown dizia que tinha muita vontade de trabalhar conosco e ele ia no ensaio do Samba Fama para o São João, sempre. Geralmente Samba Junino tem timbal, surdo e tamborim, por ser percussionista ele gostava, ia com Valtinho do Chiclete e Pedro Giordinni. Um dia, Wesley Rangel, da gravadora WR, que ajudou todos os artistas da Bahia a gravar seus discos, produziu Luiz Caldas, Chiclete com Banana, Claudia Leite, Beto Jamaica, me chamou: “Você não quer vir gravar para mim? Era meio-dia, eu tinha terminado de almoçar e fui na WR gravar a música “Canto pro Mar”, o verão estourou com essa música e começamos a fazer o ensaio lá no Candeal, no barro, na lama. Botava o surdo, afinava ali mesmo, com aquela lama toda. Fazíamos os ensaios da Timbalada na AOS, vez em quando era na lama em troca de água ou quando melhorasse um refrigerante”.
Augusto falou sobre sua agenda para o carnaval 2023 e criticou a musica baiana atual.
“Sempre concorria a melhor música do Carnaval, mas hoje em dia o Carnaval da Bahia ficou muito peito, bunda… sobe, desce e senta, levanta… eu como ativista cultural, uma pessoa negra, que vive na resistência do Samba, sou negro e luto contra as próprias discriminações, não cabe a mim inferiorizar a imagem da mulher. São coisas diferentes que a gente pesquisa e vive não com tanta intensidade, porque não temos muita força para lutar contra uma imensidão de situações, guerra na Ucrânia, terremoto na Turquia, meu Deus, as vezes tenho medo de ligar a televisão, com tanta maldade no mundo, Brown de vez em quando grita: “Tá na hora de acabar com sangue na hora do almoço meu irmão, trabalhamos tanto para botar comida na mesa, e quando ligamos a televisão é estupro, morte, bote em outro horário!”. Vou tocar dia 18 sábado de carnaval, na Praça Pedro Arcanjo, com Samba do “Vai Kem Ké”, uma vertente do meu trabalho sobre Samba Junino, temos uma Liga de Samba Junino com 60 grupos catalogados e quero levar isso para a Micareta de Feira de Santana. Esse trabalho de Samba Junino, um trabalho de comunidade, porque são pequenos blocos de carnaval, a Timbalada nasceu do Samba Junino, Brown pegou todos os Sambas Juninos, juntou e fez a Timbalada. O Samba Junino resistiu, por que podia ter Arrocha, o modismo do Sertanejo, mas em toda esquina tinha um Samba, Zeca Pagodinho estourou, mas o Samba continua, se transformando, ramificando, com o samba reggae”, finalizou.
(Reportagem: Luiz Santos e Edvaldo Peixoto)