Prefeito da pacata São Gonçalo dos Campos, cidade da região metropolitana de Feira de Santana, Tarcísio Pedreira (União Brasil) chamou atenção nos últimos dias pela atitude inusitada de, ele mesmo, pintar muros que continham símbolos de facções criminosas. Antes disso, já havia marcado posição por críticas duras às gestões do PT na Bahia, em especial ao governador Jerônimo Rodrigues, a quem chama provocativamente de “Zerônimo”.

Nesta entrevista exclusiva ao Política Livre, Pedreira faz lembrar o estilo de seu pai, o ex-deputado Targino Machado, nos tempos em que foi líder da oposição na Assembleia Legislativa da Bahia. Ele defende abertamente a candidatura de ACM Neto ao governo do Estado e diz torcer por uma chapa puro sangue de pestistas, com Jerônimo, Jaques Wagner e Rui Costa “para o povo aproveitar de uma vez só e se vingar dos três”.
Leia a entrevista completa:
O senhor tem se notabilizado nos últimos dias por pintar muros pichados com símbolos de facções criminosas. Como surgiu essa iniciativa?
Como você sabe, eu sou prefeito reeleito, comecei o segundo mandato agora, e tivemos os quatro anos iniciais de tranquilidade. São Gonçalo é uma cidade pacata, em que as pessoas valorizam a sua paz, gostam de ficar sentado na porta de casa conversando com o vizinho. E começaram, em algumas regiões, a acontecer alguns assaltos que não estavam acontecendo. Por isso, eu me manifestei, alertei a alguns delinquentes que pudessem estar cometendo delitos na cidade, que eles não encontrariam vida fácil aqui em São Gonçalo, que nós iríamos identificar, e fomos para cima, movimentando a guarda municipal, conversando com a Polícia Militar que atua em São Gonçalo dos Campos, para que a gente pudesse coibir isso. Não existe uma situação em São Gonçalo descontrolada. E é justamente para que isso não aconteça, que a minha obrigação como prefeito é me movimentar quando começa a aparecer. Eu não vou esperar a bandidagem entrar e se enraizar na minha cidade para me manifestar. Eu dei uma entrevista em uma rádio em Ferreira de Santana e disse que em São Gonçalo vagabundo, ladrão, bandido, não vai ter vez. E nessa entrevista, inclusive, eu disse que se aparecesse muro pintado com qualquer facção criminosa em São Gonçalo dos Campos, e que eu não tivesse coragem de ir lá pintar, que eu renunciaria o meu mandato no dia seguinte. E depois que eu disse isso, algumas pessoas começaram a me mandar algumas fotos em pontos específicos da cidade, onde havia muros pintados com símbolos de facções. Apenas cumpri a minha promessa, pois acredito que o Estado vê que existem marcações em bairros, em alguns pontos, não é só em São Gonçalo, em Salvador, em Feira de Santana, em todas as outras cidades, a gente percebe que existem marcações de números e a gente simplesmente fingir que isso é uma besteira, é só um detalhe, que é só um muro pintado, para mim é o atestado da incompetência, é o Estado dizer: estou perdendo a guerra. A minha obrigação como prefeito é não dar moleza. Qualquer um que acha que pode aqui em São Gonçalo entrar, enraizar, roubar o futuro dos jovens e cometer delitos, pode ter certeza que em São Gonçalo não vai encontrar vida fácil.
“Não vou ficar assistindo o governador simplesmente não fazer nada”
O senhor está lidando com um fenômeno que, do ponto de vista constitucional, não é responsabilidade da prefeitura, e sim do Governo do Estado. Como é que está essa interlocução com a gestão do governador Jerônimo Rodrigues?
Eu não acredito no governo do PT, eu faço parte da oposição ao governador Jerônimo Rodrigues. Mas não é porque ele se comporta com a sua indolência na segurança pública, a qual não atribuo à Polícia Militar, nem até ao secretário de Segurança Pública, que é um quadro muito bom, mas falta prioridade, falta o governo do Estado gastar menos com propaganda e comunicação e colocar dinheiro, porque pasta nenhuma, mas sobretudo Segurança Pública, vai funcionar se não houver dinheiro, condições, orçamento para que os policiais possam trabalhar. Porque eu tenho certeza que todos os policiais gostariam de estar tendo condições de exercer o seu trabalho, se não estivessem eles com viaturas que não têm condição de rodar por falta de combustível e que quase todos os prefeitos da Bahia precisam abastecer as viaturas para elas rodarem, se não estivessem eles com armamento defasado, tendo que enfrentar bandidos com armas inferiores aos dos próprios bandidos, se não estivessem os policiais da Bahia tendo que usar coletes à prova de bala vencidos, eu tenho certeza que a situação seria melhor. Então não vou ficar assistindo o governador simplesmente não fazer nada, porque a responsabilidade é do governo do estado, o prefeito não pode fazer, eu não penso dessa forma. É a obrigação do governador, mas acredito também que todos os prefeitos têm algo a fazer, todo mundo tem guarda civil municipal e a manifestação do gestor é muito importante, porque nos 417 municípios da Bahia se tiver um prefeito dizendo aos bandidos que na cidade dele não vai haver moleza, eles vão certamente procurar os outros 416 para atuar. Cabe ao governador Jerônimo Rodrigues tomar conta do estado todo, compete a ele também garantir a segurança dos municípios de São Gonçalo dos Campos, mas eu na minha posição de prefeito mesmo podendo fazer pouco, eu farei o meu pouco. Você acorda com o seu muro pintado com a marca de uma facção criminosa, e simplesmente não tem o direito de pintar porque tem medo de morrer, você não tem o direito de chegar num lugar, de fazer um sinal de legal numa foto porque tem gente morrendo por isso, você não tem o direito de vestir uma camisa, com um desenho animado, com a cara do Mickey, porque tem gente assassinada por conta disso. É uma questão ideológica, não acredito no governo do PT, não acho que eles enfrentam os bandidos como devem enfrentar. Não é com amor que se vence essa guerra, não é também só com a Polícia Militar, Polícia Civil agindo, é sim um trabalho conjunto. Mas não se pode acreditar que só no diálogo, só na conversa que a gente vai conseguir enfrentar as facções criminosas que são hoje muito mais organizadas do que o Estado.
”Quem acha que no ano que vem vai conseguir ganhar a eleição conversando com políticos, vai quebrar a cara. Para ganhar eleição é preciso conversar com o povo, porque o povo está gritando, está clamando e quem está no poder não está ouvindo”.
Na contramão desse drama municipal da segurança pública, nós temos visto uma aproximação do governador com diversos prefeitos, inclusive os de oposição, em reuniões institucionais, mas já buscando apoio eleitoral para 2026. Como é que está vendo esse movimento? Isso já traduz um apoio eleitoral antecipado?
Eu não tenho a menor dúvida de que esses movimentos são feitos pensando exclusivamente nas eleições do ano que vem. O governador Jerônimo, que muitas vezes me refiro a ele como governador ‘Zerônimo’, ele sequer começou a administrar a Bahia, que teve uma oportunidade que caiu no colo, ele já está pensando em administrar de novo. Só que ele está esquecendo do povo, talvez ele esteja ouvindo prefeitos da base, que estão preocupados com interesses outros, que não são os maiores interesses, porque os interesses maiores do Estado hoje, sem dúvida nenhuma, são a segurança pública e a saúde. É isso que o povo está falando, é isso que eu escuto na rua, e olha que a minha cidade sempre votou no PT, elegeu todos esses governadores majoritariamente, só que o governador Jerônimo está esquecendo de ouvir o povo, e o povo está pedindo socorro. Eu vejo inclusive que a gente tem várias pautas importantes para serem discutidas. Vai ter a eleição da UPB, tinha nove candidatos e hoje só tem um, e você não escuta, eu não ouvi nenhum deles falar em momento algum a pauta da segurança pública. Então, o que está sendo discutido? O que está sendo discutido nos bastidores? Porque eu vejo o governador ‘Zerônimo’ tirar foto, aparecer no Instagram e dizer que um prefeito que apoiou Neto agora está com ele. Mas está com o Jerônimo por quê? O que está sendo discutido? Quais são os interesses do povo? Eu não consigo enxergar. Penso que quem acha que no ano que vem vai conseguir ganhar a eleição conversando com políticos, vai quebrar a cara. Porque para ganhar eleição no ano que vem, é preciso conversar com o povo porque o povo está gritando, está clamando e quem está no poder não está ouvindo.
“Tenho 40 anos, acompanho política desde criança, venho de família de políticos e nunca ouvi falar de um governador tão ruim”
O senhor citou o nome de ACM Neto, acredita que ele realmente será o candidato da oposição?
O candidato da oposição será ACM Neto, apesar de ele não dizer ainda que será candidato, mas não existe outro candidato. O momento agora é de unir todo mundo que entende, que concorda que esse é o pior governador da história da Bahia. Eu tenho 40 anos, acompanho política desde criança, venho de família de políticos e nunca ouvi falar de um governador tão ruim. Portanto, a eleição estadual se influencia muito pela eleição federal, o país enfrenta uma crise econômica sem precedentes, o presidente da República transferindo responsabilidade para o povo nos preços altos. Acredito eu que nessa linha, pelo que nós estamos vendo, o futuro governador da Bahia certamente será ACM Neto. Não existe outro na Bahia no momento que tenha envergadura moral e política para, nesse momento, conseguir em um ano e meio construir uma candidatura. Então, não cabe, nesse momento, divisões. Penso que a oposição precisa estar unida em torno de um nome que seja o mais forte, o mais forte sem sombra de dúvidas é ACM Neto.
Como está a situação aí no seu município com relação à alta nos preços dos alimentos?
Nós estamos lidando nesse momento com uma inflação altíssima, e só para você ter uma ideia nós estamos no mês em que o salário mínimo aumentou e eu estou ouvindo das pessoas que recebem o salário mínimo, que na sua maioria votam no PT há 20 anos, estou ouvindo as pessoas dizerem de que adianta o salário mínimo aumentar se nós estamos comprando menos menos coisas? O povo sente, as pessoas que costumam fazer feira uma vez por mês com sua lista pronta para comprar, e quando percebem que não conseguem comprar tudo que comprou no mês anterior, mesmo tendo o salário mínimo aumentado, tem uma coisa errada. Então o que o governo está fazendo? Colocando dinheiro, imprimindo dinheiro, cédulas para que dê uma sensação à população de que ela está recebendo mais, mas quanto mais dinheiro você coloca, que não há produção, que não há riqueza que sustente aquele dinheiro, os preços sobem. É isso que está acontecendo. Agora você ouvir do presidente da República, a maior autoridade política do país, que a solução está no povo, o povo se conscientizar e não comprar o que está caro, quer dizer, e os impostos que estão caros é para o povo pagar ou não? É uma solução muito simples, quer dizer, se está caro, não compre. Vai recomendar o povo fazer jejum? A comida está cara, não compre. A gasolina está cara, sai a pé. Se o gás está caro, cozinha à lenha. Que solução é essa? E os gastos do governo vão diminuir quando?
“Não existe nada mais forte do que o povo quando ele quer se vingar”
Para 2026 a gente está vendo o ensaio de uma chapa majoritária puro sangue com três governadores, à qual os petistas como imbatível. Como é que você enxerga isso? É realmente uma chapa imbatível?
A minha leitura de político é que não existe nada mais forte do que o povo quando ele quer se vingar. E na minha concepção essa conversa de que é chapa imbatível, por si só, já faz o povo tomar ranço e aproveitar de uma vez só e se vingar dos três. Então, para mim, como oposição, eu estou torcendo para que seja essa chapa, para que a gente possa ganhar dos três de uma vez. É isso que o povo tá falando. E quem tá falando isso não é o povo que votou em Neto, não. Quem tá falando é o povo que elege o PT há mais de 20 anos. Em São Gonçalo dos Campos, que sempre foi reduto do PT, o que eu tenho ouvido nas ruas é isso, precisamos tirar o PT. Eu acho que o presidente Lula perdeu uma grande oportunidade, ele não deveria ter sido candidato e se elegeu para desconstruir toda a imagem que ele construiu de pai dos pobres, daquele que ajudava as pessoas. Nesse terceiro mandato desastroso, ele certamente está jogando no lixo, no ralo, todo o capital político que ele construiu durante a vida inteira. Eu torço para que seja Jerônimo, Wagner e Rui para que o povo tenha a oportunidade de dar a resposta e ganhar, derrubar e tirar os três de uma vez.
Sobre a eleição do consórcio do Portal do Sertão, houve uma antecipação do biênio 27-28. Essa disputa pode ser judicializada?
Essa eleição foi um absurdo, sobretudo porque ela foi realizada no mês de dezembro, quando cinco dos 17 prefeitos do consórcio nem prefeitos eram ainda. Eles estão no primeiro mandato, portanto em dezembro apenas tinham recebido diploma, mas existiam outros prefeitos comandando as cidades. Para que essa eleição acontecesse foi feita uma alteração de estatuto que precisava ser feita com a votação dos prefeitos no exercício, ou seja, foi feita a eleição para o biênio 25-26, elegendo o prefeito de Coração de Maria, inclusive com meu voto, e mudou-se o estatuto com o voto de prefeitos eleitos, não eram de prefeitos empossados, e elegeu o prefeito de Ipecaetá para o biênio 27-28. Agora, tem tanta coisa para acontecer daqui para lá, daqui para lá tem a eleição de 2026, que vai mudar muita coisa, e pode ter certeza de que essa eleição será derrubada, porque juiz nenhum, com a sua sã consciência, haverá de dar uma decisão favorável para uma eleição dessa.
(Por: Raul Monteiro – Política Livre)