Uma inspeção foi feita após denúncia de trabalho infantil; organizadores negam irregularidades

Auditores-fiscais do trabalho realizaram uma inspeção no torneio de tênis ATP Costa do Sauípe, em região nobre do Litoral Norte, após denúncia de trabalho infantil. Durante a visita ao local, crianças de 12 anos relataram terem sido atingidas por bolas que podem chegar a 200 km/h durante o trabalho como “boleiros”. O trabalho não foi interrompido por conta de uma decisão judicial favorável à realização do campeonato.
O auditor-fiscal Antônio Ferreira Neto, que participou da inspeção realizada no domingo (26), afirma que foram identificados 33 “boleiros” no torneio de tênis, sendo que apenas um deles é maior de idade. Os boleiros são os responsáveis por recolher e entregar as bolas aos atletas durante as partidas. A maioria deles tem entre 12 e 14 anos.
Para o auditor, a atividade é arriscada, uma vez que os jovens ficam expostos ao sol forte e correm o risco de serem atingidos por bolas arremessadas a cerca de 200 km/h. “É uma velocidade muito rápida, e sabemos que os organismos das crianças não estão preparados para impactos desse tipo”, afirma. Segundo Antônio Ferreira, ao menos três crianças relataram terem sido atingidas durante o campeonato, que aconteceu entre os dias 19 e 26 de outubro.
Inicialmente, os auditores-fiscais iriam solicitar a suspensão do trabalho dos boleiros com menos de 18 anos. Porém, a organização do ATP Costa do Sauípe apresentou uma decisão da Vara Criminal de Mata de São João favorável à contratação dos jovens.
A empresa Sauípe S/A solicitou autorização judicial para que jovens com idades entre 12 e 18 anos participassem como repositores de bola. A decisão foi proferida no dia 17 de outubro, portanto, dois dias antes do início do campeonato. O auditor Antônio Ferreira Neto pontua que o trabalho de boleiros com menos de 18 anos já havia sido tema de discussão em torneios realizados em outros estados. Por isso, a organização teria solicitado a autorização previamente.
A juíza Lucia Cavalleiro de Macedo Wehling autorizou a participação, entendendo que a atividade tem caráter recreativo e esportivo, não configurando trabalho, e que não há indícios de risco ou prejuízo aos menores. Apesar disso, os auditores constataram que cada jovem receberia R$ 50 por dia para exercer a atividade.
O que diz os organizadores
A reportagem entrou em contato com as empresas Try e a Costa do Sauípe, realizadoras do Costa do Sauípe Open – ATP Challenger 125. Em nota conjunta, as empresas disseram que a participação dos jovens é uma ação socioeducativa em parceria com o projeto social Borges Tênis, envolvendo adolescentes moradores do município de Mata de São João (BA) como boleiros.
“A iniciativa teve como objetivo aproximar os jovens do
esporte
e contribuir para sua formação cidadã, em linha com as diretrizes de sustentabilidade e responsabilidade social do destino, além de trazer para os adolescentes o que aprenderam na teoria e nos treinos”, afirma a nota.
“As empresas esclarecem que a atividade foi autorizada pelo Juizado da Infância e Juventude e realizada de forma regular e seguindo todas as exigências acordadas, com consentimento dos responsáveis legais e supervisão constante de adultos. Os adolescentes participaram do torneio em horário compatível com suas atividades escolares e em escala de revezamento, com intervalos regulares em ambiente adequado e climatizado, e receberam alimentação, roupas confortáveis e protetor solar”, completa a nota.
Próximos passos
Após o fim do evento, os auditores-fiscais vão elaborar um parecer que deverá ser enviado ao Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA). Mesmo com o parecer favorável à realização do trabalho dos boleiros, os auditores não concordam com a prática para jovens com menos de 18 anos.
“Uma menina de 12 anos relatou que foi atingida por uma bolada no peito. O maior receio é, inclusive, que essas bolas atinjam os olhos das crianças, o que pode provocar danos graves. Esperamos que nos próximos eventos isso seja avaliado e haja um cuidado maior”, afirma Antônio Ferreira Neto.
(Por: Maysa Polcri/Correio24hs)

